
Nesse texto de Helena Moraes, um pouco da história e dos desafios de uma geração que adora mudar.
Passou dos 50? Então acelere. Sempre há tempo para uma boa mudança.
Por: Helena Moraes
Que a geração Baby Boomer* ainda vai mudar o jeito que a sociedade a percebe, para mim não há dúvida.
O sucesso dos perfis como Accidental Icon Idiosyncraticfashionistas, ou a atriz Ilka Soares posando como modelo fotográfica da nova coleção da descolada marca The Paradise, do Rio são sinais de que isso já está acontecendo.
Continuamos tendo coisas a dizer e mostrar, exemplos a dar. E percebemos que a tecnologia pode ajudar. Muito.
Nessas horas me dá vontade de encomendar um chapéu bem espalhafatoso de um desses sites de moda 60+, só para tirá-lo em reverência à capacidade de mudança dessa geração.
Mudar o jeito de fazer as coisas é o passatempo preferido dos baby boomers há muito tempo. Desde aqueles dias distantes em que uma pessoa só podia ter algo a dizer ou ser considerada exemplo se fosse gente grande, igual a seus pais.
Mas quem disse que os baby boomers tinham intenção de ser parecidos com eles?
Ficar igual a pessoas capazes de inventar uma guerra como a do Vietnã e ainda mandar seus filhos para lutarem nela? Isso nunca.
Sim, havia uma revolução a ser feita. Mas seria dentro das nossas casas, nas ruas da nossa cidade, na escola, os colegas e amigos iam lutar junto. E o combinado era não tocar em armas. Dá uma ideia do tamanho do idealismo?
Assim surgiu um momento muito singular da história, no final dos anos 1960.
Começou com uma manifestação estudantil na França que reivindicava o fim da guerra do Vietnã, a extinção das estruturas opressoras da sociedade e de quebra o fim do capitalismo. Ah, e umas mudanças curriculares, mas só pra constar.
Os manifestantes faziam questão de enfatizar seu jeito diferente de protestar (“artístico e poético”, em suas palavras) e tinham como lema a recomendação: “Seja realista, queira o impossível”.
Talvez pela aparente ingenuidade, talvez pela ousadia, o fato é que o movimento logo passou a contar com o apoio de sindicatos, artistas e intelectuais, englobou reivindicações de outros grupos com o de libertação das mulheres e dos negros e foi se espalhando e ganhando força pelo mundo inteiro.
Aqui no Brasil, a trilha sonora das passeatas era preferencialmente Caetano Veloso. O sol se repartia em crimes, espaçonaves, guerrilhas, caras de presidentes e grandes beijos de amor.
Vivíamos a ditadura militar e se as letras das músicas eram “algo incompreensíveis” por ter de driblar a censura, as ações de opressão dos militares eram muito, muito mais.
Mesmo assim, caminhávamos contra o vento sem lenço e sem documento, gritando “É proibido proibir.” Com o apoio em massa dos artistas, dos intelectuais, dos sindicatos, de todo mundo, as manifestações tiveram seu lugar ao sol dos trópicos, em ruas e praças do país inteiro.
Pra que.
O governo militar sentiu o perigo e a reação veio na forma de um ato institucional, o AI-5, que suprimia direitos individuais básicos. Houve prisões, tortura e mortes. E o resto da história, a maioria já sabe.
Foi uma mancha de violência desmedida do estado brasileiro contra os próprios cidadãos do Brasil, que confundiu até hoje a cabeça dos brasileiros sobre o verdadeiro papel das instituições em um país.
Mas se o sonho acabou em repressão, a história das ideias pelas quais os jovens mobilizaram a sociedade inteira naqueles dias estava bem longe de acabar.
Hoje, ao ver jovens brasileiros clamando por uma ditadura militar, nós que já temos os cabelos grisalhos, ficamos com todos eles de pé. Nada pode ser pior que uma ditadura e pelo que ouço falar, até os próprios militares já entenderam isso.
Por outro lado, a geração dos baby boomers é a que mais se identifica com os sonhadores/empreendedores de hoje. Esses que não se limitam a sonhar e já estão criando novas realidades para o planeta ao unir suas ideias sustentáveis ao empreendedorismo em rede.
Os baby boomers se acostumaram a acompanhar e a protagonizar mudanças. A vibrar e lutar por elas, sem desistir.
Por tudo isso, acho que o desafio dessa geração hoje vai muito além de mudar a percepção dos outros ou como percebem a si mesmos.
O desafio é não se encolher. É não cair na tentação de usar a aposentadoria do trabalho para se aposentar da vida.
Ok, talvez isso demande um olhar atento inicial para dentro de si mesmo, a fim de descobrir como quer viver as próximas décadas da vida. Atuando em que? Aprofundando o conhecimento em que? Compartilhando o que? Com quem? Descobrindo formas de contribuir para a vida ficar melhor.
Mas mesmo durante essa reflexão é melhor estar na rua. Rua, internet, redes sociais, seja o que for. O importante é que o olhar para dentro de si gere novas formas de interação com o outro.
Mesmo que o individualismo tenha feito parte da sua vida em algum momento, se você tem mais de 60 anos, esse tempo acabou. Hora de mudar mais uma vez. Agora é hora de compartilhar, dividir, somar e multiplicar. Tudo pra mais.