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"Eu", "me", "meu".
Estas são algumas das primeiras palavras que aprendemos. Desde os nossos primeiros anos na Terra, aprendemos a definir-nos pela separação.
Tu és tu, e eu sou eu.
É visível a diferença em todo o lado para onde olhamos. Não admira, portanto, que a dualidade reine. Mas esta dualidade não existe apenas no mundo que nos rodeia, mas também dentro de nós próprios.
O ser humano e a vida, em geral, estão cheios de contradições e paradoxos que coexistem confusamente.
Neste artigo, vamos mergulhar na transcendência da dualidade.
O que é que significa ter dualidade?
Para aprofundar o significado da dualidade, temos de aprofundar a forma como percepcionamos a realidade.
Quando pensamos em dualidade, normalmente pensamos em opostos como claro e escuro, quente e frio, dia e noite, etc.
Mas quando vamos a fundo, descobrimos que todos os opostos existem simultaneamente. São apenas aspectos diferentes da mesma coisa. Todos os opostos são, de certa forma, complementares.
Assim, se retirássemos os opostos, ficaríamos sem nada. Portanto, todos os opostos existem simultaneamente porque fazem parte da mesma coisa.
A dualidade é algo que criamos através da nossa percepção. A própria palavra descreve um estado de ser. É algo que é experimentado e não simplesmente observado. A dualidade só existe porque a percepcionamos dessa forma.
Mas apesar de experimentarmos a dualidade na vida, muitos de nós estão simultaneamente conscientes de que a realidade é mais do que aparenta. Tudo está ligado e é interdependente. O todo é maior do que as suas partes.
A dualidade é o que cria a ilusão da separação. A mente dualista, ao concentrar-se na razão, vê-se isolada do universal.
Os perigos da dualidade
A crença de que somos todos indivíduos separados levou a inúmeros conflitos (grandes e pequenos) ao longo da história do homem.
Travam-se guerras, projectam-se culpas, lança-se o ódio.
Tememos o que vemos como "outro" e difamamo-lo. Isto pode causar problemas sociais destrutivos como o racismo, o sexismo, a islamofobia e a homofobia.
Quando acreditamos que somos entidades separadas, continuamos a lutar para saber quem é dono do quê, quem ama quem, quem deve governar quem, etc.
Enquanto acreditarmos que há um "eles" e um "nós", é mais difícil unirmo-nos. E assim continuamos divididos.
Não é apenas o nosso tratamento mútuo que sofre com a rígida apreensão da dualidade, mas também tem um impacto significativo no nosso planeta.
A incapacidade de apreciar verdadeiramente a interconexão da vida levou a humanidade a pilhar os recursos naturais e a poluir o planeta.
Usamos e abusamos dos animais, das aves, da vida vegetal e da diversidade da biodiversidade que partilha a nossa casa.
A investigação sugere mesmo que um dos maiores obstáculos à luta contra o aquecimento global é o facto de os seres humanos serem demasiado egoístas para suportar o sofrimento presente para evitar futuras alterações climáticas.
É uma conclusão condenatória, mas que aponta para o problema subjacente da separação. A nossa insistência em concentrarmo-nos no indivíduo em detrimento do todo pode ser a culpada.
Se conseguirmos transcender a dualidade, podemos certamente viver em melhor harmonia com os outros e com o mundo em que vivemos.
O paradoxo da dualidade
Então, a dualidade é uma coisa má, certo?
É importante compreendermos que não é a dualidade em si que é má ou boa, é apenas uma forma de percepcionar a realidade.
Como Hamlet, de Shakespeare, reflecte profundamente: "Não há nada de bom ou de mau, mas o pensamento é que o faz".
A dualidade é, em certa medida, essencial: sem contraste, não existe praticamente nada.
Veja também: Tremor do olho esquerdo nos homens: 10 grandes significados espirituaisO paradoxo da dualidade é que sem diferença, sem um oposto como ponto de referência, a nossa mente não seria capaz de processar o mundo.
Precisamos de dualidade para experimentar qualquer coisa.
Sem baixo, como pode haver um alto? Sem dor, não há prazer. Sem ti, como posso sentir-me como eu?
A dualidade é a forma como orientamos o mundo.
Se acredita que somos fundamentalmente uma energia Universal ou Deus que se manifesta na forma física, então continuamos a precisar de separação para criar essa realidade física.
Não podemos então ignorar ou descartar a dualidade.
O paradoxo é que a dualidade a um nível Universal ou espiritual pode não existir, mas sem ela, o mundo tal como o conhecemos também não existiria.
Como Einstein afirmou: "A realidade é apenas uma ilusão, embora muito persistente".
Persiste porque, sem ela, não podemos experimentar a vida tal como a conhecemos. A vida é uma dualidade? Sim, porque a vida tem de ser feita de forças opostas e concorrentes.
Como já vimos, viver apenas na ilusão da dualidade também pode ser incrivelmente prejudicial. Mas a dualidade só é problemática quando cria conflito - dentro ou fora de nós.
A chave é abraçar e equilibrar essas dualidades para que elas se complementem, em vez de lutarem entre si.
Talvez a solução seja aceitar simultaneamente o paradoxo da dualidade e integrar os seus elementos separados, de modo a reflecti-la como o todo Universal que é.
O que é a dualidade da natureza humana?
Já falámos de como a dualidade existe fora de nós para moldar o mundo que vemos e conhecemos.
Mas, indiscutivelmente, toda a dualidade começa dentro de nós. Afinal de contas, somos nós que percepcionamos a dualidade para a tornar real. Não é surpresa, portanto, que a dualidade exista não só no mundo à nossa volta, mas também dentro de nós.
Todos nós já passámos por um conflito interno, que pode parecer que há duas pessoas a viver dentro da nossa cabeça.
Queremos ser uma versão de nós próprios, mas outra continua a aparecer, por mais que a tentemos afastar.
Muitas vezes acabamos por reprimir as partes de nós próprios de que não gostamos e que nos fazem sentir desconfortáveis, levando à criação daquilo a que o psicólogo Carl Jung chamou o "eu sombra".
Assim, acabamos por fazer com que partes de nós sejam erradas ou más e carregamos a vergonha disso, o que só serve para nos sentirmos ainda mais isolados.
Os comportamentos inconscientes surgem então da repressão daquilo de que não gostamos no nosso interior, ao procurarmos suprimir partes legítimas de nós próprios.
Poder-se-ia dizer que tentamos lidar com a dualidade natural da humanidade escondendo as nossas trevas, em vez de as iluminar.
Como é que eu ultrapasso a dualidade?
Talvez uma pergunta ainda melhor seja: como é que eu abraço a minha dualidade? Porque esse é o melhor sítio para começar se quisermos transcender a dualidade.
Trata-se de aprender a deixar de lado o pensamento preto e branco, aceitando simultaneamente o paradoxo de coexistir com o contraste. Desta forma, podemos tentar viver no cinzento, o espaço onde os dois se encontram.
Em vez de ver tudo através da lente dos opostos, começa a compreender os dois lados de cada questão.
Em vez de nos definirmos pelas nossas diferenças, aprendemos a apreciá-las. Apercebemo-nos de que cada face de uma moeda contém algo de valioso.
Assim, em vez de tentar mudar a outra pessoa, aprendemos a amá-la incondicionalmente. Em vez de nos sentirmos ameaçados pela sua diferença, ficamos fascinados por ela e aprendemos a partilhá-la.
Esta pode ser a forma de viver harmoniosamente com os outros, mas tudo começa dentro de nós.
Para desfrutar plenamente da vida, é necessário deixar de lutar contra a sua própria natureza, aprendendo primeiro a aceitar a sua própria dualidade.
Se quisermos realmente ultrapassar a dualidade, temos de deixar de lado o medo de perder o controlo, temos de nos permitir render à verdade de quem realmente somos.
Não se pode obrigar a ser outra pessoa, não se pode fingir que se é outra pessoa, simplesmente escolhe-se entre escondê-la ou exprimi-la, ou seja, ou se nega ou se abraça.
Quando conseguir libertar-se dos seus medos, descobrirá que flui mais naturalmente em harmonia consigo próprio e com o mundo à sua volta.
Quando finalmente te renderes à verdade da tua existência, descobrirás que já és perfeito. E por perfeito quero dizer simplesmente completo.
3 dicas para transcender a dualidade
1) Não negar a escuridão
O mundo da auto-ajuda tem um lado potencialmente perigoso.
A vida terá sempre luz e escuridão, altos e baixos, tristeza e alegria.
Transcender a dualidade não significa expulsar o lado mais negro de si mesmo. Não é possível. Em vez disso, trata-se de integrar ambos os lados para ver o todo.
O exemplo perfeito é o Yin e o Yang da antiga filosofia chinesa, que juntos criam um equilíbrio perfeito que completa o círculo.
Isso não significa dar permissão a si mesmo para ser um idiota, porque está simplesmente a expressar parte de si mesmo.
Mas torna-se positivismo tóxico ou branqueamento espiritual quando tentamos ignorar ou expulsar os opostos que ocorrem naturalmente na vida.
É muito fácil fazê-lo. Temos as melhores intenções, queremos crescer e tornarmo-nos a melhor versão de nós próprios, mas podemos acabar por adquirir todo o tipo de hábitos prejudiciais como este.
Talvez tenha reconhecido algumas em si próprio?
Talvez seja a necessidade de ser sempre positivo? Ou será um sentimento de superioridade em relação àqueles que não têm consciência espiritual?
Mesmo os gurus e os especialistas bem intencionados podem enganar-se.
O resultado é que acabamos por conseguir o oposto daquilo que procuramos, fazendo mais para nos prejudicar do que para nos curar.
Pode até magoar os que o rodeiam.
Neste vídeo revelador, o xamã Rudá Iandé explica como muitos de nós caímos na armadilha da espiritualidade tóxica. Ele próprio passou por uma experiência semelhante no início da sua jornada.
Como ele menciona no vídeo, a espiritualidade deve ter a ver com o fortalecimento de si próprio, não suprimindo emoções, não julgando os outros, mas formando uma ligação pura com quem somos no nosso âmago.
Se é isto que gostaria de alcançar, clique aqui para ver o vídeo gratuito.
Mesmo que já esteja no início da sua jornada espiritual, nunca é tarde demais para desaprender os mitos que comprou como verdade.
2) Evitar a sobre-identificação
"Transcendência significa ir além da dualidade, apego significa permanecer na dualidade." - Osho
Veja também: Sonhar com alguém significa que essa pessoa sente a sua falta? 10 coisas que precisa de saberA questão não é a existência de contrastes na vida, mas sim os apegos que criamos em torno dessas dualidades.
Temos tendência a identificarmo-nos com certos aspectos de nós próprios e do mundo e a apegarmo-nos a eles, o que conduz à ilusão e até ao delírio.
Desenvolvemos crenças sobre quem somos, o que cria um sentimento de separação.
Apegamo-nos tanto às nossas opiniões, pensamentos e crenças porque as usamos para nos definirmos.
Leva-nos a ficar na defensiva, a recuar ou a atacar quando sentimos que esta estrutura tão querida está a ser ameaçada por outra pessoa.
Por isso, em vez de tentarmos agarrar-nos a um oposto, talvez possamos aprender a observar os contrastes sem os julgar... Dessa forma, não seremos apanhados por eles.
É aqui que a meditação e a atenção plena se tornam úteis, pois são óptimas ferramentas para o ajudar a libertar-se do seu ego e das suas opiniões.
Isto permite-lhe encontrar alguma quietude para observar a mente, em vez de ficar enredado nos seus pensamentos.
3) Aceitar-se a si próprio com compaixão
Acredito firmemente que todas as viagens de auto-exploração precisam de ser empreendidas com uma quantidade incrível de auto-compaixão, amor e aceitação.
Afinal de contas, o mundo exterior é sempre um reflexo do nosso mundo interior, espelha a forma como nos tratamos a nós próprios. Quando conseguimos mostrar bondade para connosco, é muito mais fácil mostrá-la aos outros.
Podemos alimentar este mundo interior através de actos de gratidão, generosidade e perdão.
Pode explorar a sua relação consigo próprio de muitas formas práticas através de ferramentas como o diário, a reflexão, a meditação, a frequência de cursos, a terapia ou mesmo a simples leitura de livros sobre psicologia e espiritualidade.
Quanto mais próximo estivermos de nós próprios, mais próximos estaremos simultaneamente do todo.